Eles mostraram o quanto podem ser poderosos.
Confesso que não acompanhei tanto o quanto poderia toda essa manifestação egípcia para retirar o ditador Hosni Mubarak do poder, depois de inacreditáveis 30 anos a frente do país das pirâmides. Porém foi o suficiente para poder admirar a força do povo que se organizou pacificamente, em sua maioria, para lutar pelo seus ideais.
Fiquei com inveja e até um pouco envergonhado, porque nunca vi esse tipo de mobilização aqui no Brasil. Quando eu digo que nunca vi, me refiro ao presente e ao passado recente do nosso país. Não poderia jamais de mencionar a passeata dos 100 mil contra a Ditadura, mas isso foi bem antes de eu nascer então eu não vivi "in loco" esse momento, somente através de livros e documentários da época.
Não vou nem mencionar o tal do "Movimento dos Caras Pintatas", porque aquilo foi algo criado e incentivado pela mídia (entenda-se TV Globo e Revista Veja) para tirar do poder o presidente que eles mesmos ajudaram a eleger poucos anos antes. Logo não foi algo espontâneo da população. Muita gente participou justamente para aparecer. Tipo "Vou pintar a minha cara e aparecer na tv".
A atual sociedade brasileira já demonstrou toda a sua capacidade de se unir em prol da solidariedade. Acompanhei de perto, infelizmente, dois exemplos disso: os desastres do morro do Bumba em Niterói no ano passado e as chuvas da Região Serrana em janeiro (tudo começou no dia do meu aniversário, inclusive). Nesses dois casos teve uma grande comoção popular que possibilitou ajuda de tudo quanto é tipo aos necessitados.
Porém quando a comoção é para lutar pelos seus próprios direitos, parece que a população não se empolga muito, talvez pelo pragmatismo de achar que nada vai mudar, que de nada vai adiantar o esforço. Agora essas pessoas têm um grande exemplo de que vale a pena protestar pelos seus ideais, de que com barulho toda uma calmaria pode ruir. Parafraseando Chico Science, a organização da população pode desorganizar um sistema.
Se acreditarmos mais nisso, verdadeiras múmias como o Sarney não permaneceriam tanto tempo no Senado e nem leis absurdas como essa mais recente do aumento de 62% do salário dos parlamentares existiriam. Bem que poderia acontecer uma mistura do Brasil com o Egito, não como naquela música de gosto duvidoso do "É o Tchan", mas no sentido de know how entre a população de lá com a de cá.